As placas em português em Macau chamam atenção de turistas e curiosos do mundo todo. Para quem visita a região, é comum ver ruas, prédios públicos e até lojas com nomes escritos em duas línguas oficiais: o chinês e o português. Mas afinal, por que esse idioma europeu ainda é tão presente em uma região administrada pela China?
Uma herança de mais de 400 anos
A presença do português em Macau é resultado direto do passado colonial da cidade. A antiga colônia foi administrada por Portugal por mais de quatro séculos, de 1557 até 1999, quando foi devolvida à China e passou a ser uma Região Administrativa Especial (RAE), com status semelhante ao de Hong Kong.
Durante esse longo período de convivência, a cultura portuguesa se enraizou profundamente em vários aspectos da vida local — da arquitetura e gastronomia à administração pública. O português tornou-se uma das línguas oficiais de Macau, ao lado do chinês, e essa condição se manteve mesmo após a devolução do território à China.
O português como língua cooficial
Mesmo sob administração chinesa, o Acordo Sino-Português, firmado antes da transferência de soberania, garantiu que o português continuaria a ter status oficial. Isso significa que o idioma é utilizado em documentos legais, decisões judiciais, placas públicas, e na comunicação entre órgãos governamentais.
Além disso, o bilinguismo institucional é uma marca registrada de Macau. As ruas têm nomes como “Avenida de Almeida Ribeiro” ou “Rua do Campo”, sempre acompanhados da versão chinesa. Essa dualidade reflete o compromisso de manter viva a herança cultural portuguesa, respeitando ao mesmo tempo a identidade chinesa da região.
Influência cultural e urbana portuguesa
A influência lusa não se limita à língua. Macau conserva traços arquitetônicos e urbanos típicos das cidades portuguesas. O Centro Histórico de Macau, por exemplo, foi reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, justamente por representar um dos encontros culturais mais duradouros entre o Ocidente e o Oriente.
Praças com calçadas de pedra portuguesa, igrejas barrocas e fortificações coloniais convivem com templos chineses e arranha-céus modernos, formando um cenário único no mundo. Essa mistura de estilos faz de Macau um símbolo de integração cultural e um dos destinos turísticos mais peculiares da Ásia.
Educação e o papel do português no presente
Outro fator que mantém o português vivo em Macau é o sistema educacional. Existem escolas bilíngues e universidades que oferecem cursos de português, tanto para nativos quanto para estrangeiros. A Universidade de Macau e o Instituto Politécnico de Macau são exemplos de instituições que promovem o ensino do idioma e incentivam o intercâmbio com países lusófonos.
Além disso, a cidade abriga instituições de mídia em português, como o Jornal Tribuna de Macau e o Canal Macau, que mantêm a população informada e ajudam a preservar o uso cotidiano da língua.
Um elo entre a China e os países lusófonos
O bilinguismo de Macau também tem um papel estratégico. O governo chinês reconhece o valor da região como ponte entre a China e os países de língua portuguesa, como Brasil, Portugal, Angola e Moçambique. Por isso, Macau sedia fóruns e eventos voltados à cooperação econômica e cultural entre essas nações, fortalecendo o papel do português como ferramenta diplomática e comercial.
Um legado que resiste ao tempo
Mesmo com o avanço do mandarim como idioma dominante, o português continua sendo parte da identidade de Macau. Ele está presente nas placas de ruas, nos documentos oficiais, nas escolas e na memória coletiva de seus habitantes.
Para muitos moradores, essa herança não é apenas uma lembrança do passado colonial, mas também um símbolo de convivência pacífica entre culturas diferentes. Em meio à modernização acelerada da Ásia, Macau preserva um pedaço vivo da história de Portugal — e isso a torna única no mapa mundial.