Você sabia que já foi proibido falar outros idiomas no Brasil?

1 mês atrás 52

Durante um período delicado da história brasileira, falar idiomas estrangeiros foi considerado crime. A medida, que hoje parece impensável, aconteceu em um contexto de guerra e nacionalismo extremo, com impactos profundos sobre comunidades imigrantes que ajudaram a formar a identidade do país.

O contexto da proibição de idiomas estrangeiros

A proibição ocorreu durante o governo de Getúlio Vargas, especialmente entre os anos de 1938 e 1945, durante o período conhecido como Estado Novo. Esse regime ditatorial foi marcado por forte centralização do poder, censura, perseguição política e um intenso esforço de “nacionalização” da cultura brasileira.

Nesse cenário, falar idiomas como alemão, italiano e japonês se tornou ilegal, principalmente após o Brasil declarar guerra ao Eixo durante a Segunda Guerra Mundial.

A campanha de nacionalização e repressão cultural

Com o avanço das tensões globais, Vargas implantou a chamada “Campanha de Nacionalização”, que buscava criar uma identidade cultural única e alinhada aos valores nacionais. Isso significava, na prática, reprimir qualquer manifestação cultural estrangeira, incluindo a linguagem.

Foram fechadas escolas comunitárias que ensinavam em outras línguas, como o alemão nas regiões sulistas e o japonês em colônias agrícolas do interior de São Paulo. Além disso, jornais em idiomas estrangeiros foram proibidos, e pessoas que falassem outros idiomas em público podiam ser presas, multadas ou intimidadas pela polícia.

A repressão atingiu diretamente comunidades inteiras de imigrantes, que até então mantinham tradições linguísticas e culturais com liberdade. Muitos passaram a esconder suas origens, evitar o uso da língua materna em casa e até mudar nomes para evitar discriminação.

As línguas atingidas pela proibição

As principais comunidades afetadas foram:

  • Alemães, especialmente em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná;

  • Italianos, em São Paulo, Espírito Santo e sul do país;

  • Japoneses, no interior paulista e no Paraná.

Esses grupos foram tratados como suspeitos, mesmo tendo muitos brasileiros naturalizados entre eles. Era comum o confisco de livros, revistas e materiais escolares nesses idiomas. Igrejas que realizavam missas em outras línguas também foram obrigadas a adotar o português.

A consequência para a identidade cultural brasileira

A repressão linguística teve efeitos duradouros. Muitas tradições culturais e idiomáticas se perderam com o tempo. Famílias inteiras deixaram de ensinar o idioma de seus antepassados às novas gerações, por medo ou vergonha.

Apesar disso, em alguns locais do país, a resistência cultural permitiu a preservação de línguas como o hunsrückisch (alemão do sul) e o talian (variante do italiano), faladas até hoje por comunidades específicas.

Quando a proibição chegou ao fim?

Com o fim do Estado Novo em 1945 e a redemocratização do Brasil, a proibição do uso de idiomas estrangeiros foi gradualmente sendo encerrada. No entanto, os traumas e as perdas culturais causados pela medida são lembrados até hoje por descendentes dessas comunidades.

Em muitos casos, a volta à prática pública dessas línguas demorou décadas. Algumas escolas bilíngues só foram reabertas a partir dos anos 1970 e 1980.

O Brasil multicultural que foi silenciado

O episódio revela uma contradição histórica: um país formado por imigrantes, que em determinado momento, proibiu o uso das línguas trazidas por esses mesmos povos. A diversidade linguística, que hoje é celebrada, já foi vista como ameaça à soberania nacional.

Essa história pouco conhecida é um lembrete da importância da liberdade cultural e linguística. Falar outros idiomas não representa traição à pátria, mas sim uma expressão da riqueza cultural do Brasil.