Supersalários no setor público custam ao Brasil R$ 20 bilhões em 12 meses

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Um estudo recente encomendado pelo Movimento Pessoas à Frente em parceria com República.org revela que o Brasil lidera um ranking internacional de supersalários no serviço público entre 12 países analisados — e o custo para os cofres públicos é chocante: R$ 20 bilhões em apenas um ano

Entre agosto de 2024 e julho de 2025, cerca de 53.500 servidores — ativos e inativos — receberam acima do teto constitucional, atualmente fixado em R$ 46.366,19. 

O levantamento compara o Brasil com 11 outras nações de perfis sociais e culturais similares, incluindo países da Europa e das Américas. Nenhum chega nem perto do gasto e da magnitude de casos relatados no Brasil. 


Quem são os beneficiados — e por que o custo é tão alto

A maior parte dos supersalários está concentrada em carreiras de alta remuneração, especialmente dentro do poder Judiciário e do Ministério Público. Lavra-se que 93% dos magistrados e 91,5% dos membros do Ministério Público ultrapassaram o teto constitucional em 2023. 

No caso do Executivo federal, advogados da União e procuradores federais compõem parte significativa dos que excedem o limite, mas a maioria dos pagamentos exorbitantes está concentrada justamente nas carreiras jurídicas. 

Além disso, o estudo aponta que muitos desses supersalários são resultado não apenas de salários-base elevados, mas de uma série de “penduricalhos” — verbas adicionais que, somadas, fazem a remuneração ultrapassar o teto constitucional. 

De 2023 para 2024, apenas os “extrateto” pagos a magistrados cresceram 49,3% — um índice muito superior à inflação do período, que foi de cerca de 4,8%. 

Segundo o levantamento, os auxílios e benefícios extras já representam mais de 43% dos rendimentos líquidos de algumas categorias. Caso o ritmo se mantenha, os valores além do teto podem dobrar num espaço de poucos anos. 



Impactos no orçamento público e na desigualdade

O montante de R$ 20 bilhões gastos em 12 meses somente com salários acima do teto equivale a investimentos substanciais que deixaram de ser feitos em áreas essenciais. Por exemplo, os recursos poderiam financiar milhares de unidades básicas de saúde, educação ou programas sociais. Estudos anteriores apontaram que, em 2023, os R$ 11,1 bilhões gastos com supersalários poderiam beneficiar milhões de pessoas via políticas sociais. 

Além do impacto financeiro, há o aspecto da desigualdade interna no serviço público: enquanto uma parcela pequena recebe salários muito altos, a maioria dos servidores continua com vencimentos modestos. 

Para a diretora-executiva do Movimento Pessoas à Frente, Jessika Moreira, este cenário “amplia a desigualdade remuneratória no funcionalismo e tem efeito desmoralizante na legitimidade do Estado”. 


Mobilização por reforma: propostas e contestação

Em resposta ao problema, o Movimento Pessoas à Frente e organizações parceiras elaboraram um manifesto que defende uma legislação mais rígida contra supersalários, com regras claras para distinção entre verbas remuneratórias e indenizatórias. 

Também foi apresentada uma proposta de emenda constitucional (PEC), junto a um projeto de lei — no caso, o PL 3.328/2025 — para tornar mais transparente a remuneração pública e coibir abusos como bônus automáticos, férias dobradas ou “auxílios” que incorporam salário. 

Segundo a pesquisa, há forte apoio popular à revisão dos benefícios: uma sondagem do Instituto Datafolha mostrou que 83% dos brasileiros são favoráveis ao combate aos supersalários no setor público. 

No entanto, há resistência. Críticos argumentam que algumas carreiras de risco e alta complexidade — como magistrados, procuradores e advogados públicos — enfrentam grande responsabilidade, o que justificaria remunerações elevadas para atrair e reter pessoal qualificado.

Mesmo assim, segundo os defensores da proposta, a prevalência de “penduricalhos” distorce a realidade: o problema não seria a remuneração per se, mas a forma como ela é inflada sem critérios claros.


Por que o tema importa para o futuro do Brasil

A polêmica envolvendo supersalários transcende a simples questão de custo. Em um país onde serviços públicos essenciais — saúde, educação, segurança — padecem por falta de recursos, os R$ 20 bilhões gastos em um ano em privilégios salariais se tornam um símbolo de ineficiência e injustiça social.

Além disso, a disparidade entre uma minoria com altos rendimentos e a grande maioria com vencimentos baixos reforça uma estrutura desigual, que desafia a ideia de que o serviço público seja um instrumento de promoção de igualdade.

Uma reforma administrativa, com definição clara de remuneração, transparência e critério, não é apenas uma questão de economia: trata-se de legitimidade institucional, justiça social e eficiência do Estado.